domingo, 3 de julho de 2011

ENSINAR O QUE SE SABE

Até agora eu o ensinei a marchar. È isto que se ensina nas escolas. Caminhar com passos firmes. Nunca altar sobre o vazio. Nada dizer que não esteja construído sobre sólidos fundamentos. Mas, com o aprendizado do rigor, você desaprendeu mesmo a arte de falar. Na Idade Média (e como a criticamos!) os pensadores só se atreviam a falar se solidamente apoiados nas autoridades. Continuamos a fazer o mesmo, embora os textos sagrados sejam outros. Também as escolas e universidades têm seus papas, seus dogmas, suas ortodoxias. O segredo do sucesso na carreira acadêmica? Jogar bem a boca de forno e aprender a fazer tudo o que seu mestre mandar...

Agora o que desejo é que você aprenda a dançar. Lição de Zaratustra, que dizia para se aprender a pensar é primeiro preciso aprender a dançar. Quem dança com as ideias descobre que pensar é alegria. Se pensar lhe dá tristeza é porque você só sabe marchar, como soldados em ordem unida. Saltar sobre o vazio, pular de pico em pico. Não ter medo da queda. Foi assim que se construiu a ciência: não pela prudência dos que marcham, mas pela ousadia dos que sonham. Todo conhecimento começa com o sonho. O conhecimento nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra sonhada. Mas sonhar é coisa que não se ensina. Brota das profundezas do corpo, como a água brota das profundezas da terra. Como mestre só posso lhe dizer uma coisa: “CONTE – ME OS SEUS SONHOS, PARA QUE SONHEMOS JUNTOS”.

                                                            Rubem Alves

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